quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Feliz Ano Novo


Hoje, quarta- feira de cinzas, é provável que o rei Momo já tenha devolvido as chaves da cidade para o prefeito. Há quem defenda fervorosamente a noção que diz que o útimo dia do ano é a terça- feira gorda. Boto fé. Sou do tipo que também acha que o ano só começa depois do carnaval.


Sou um folião beirando os 40. Reconheço que a minha disposição física e etílica não é mais a mesma. Lembram do Júnior comandando o Mengão no título brasileiro de 92? Tô igual. Não me peçam pra correr. Mas se a bola chega no meu pé, eu resolvo.


O Boitatá como sempre estava do caralho! Eu adoro a idéia de não precisar sair do lugar. Você escolhe um cantinho da pça. XV pra parar, elege seu 'ambulante de estimação', faz amizade com ele e já foi! Cheguei às 8:30h e saí quase às 18h. Coloquei apelido no ambulante, fiquei sabendo seu nome, sobrenome, onde morava e ele, com satisfação, procurava no fundo do isopor a cerveja mais gelada. Mexi o meu "traseiro gordo" apenas pra mijar. Perfeito!


Outro bloco merecedor de citação foi o Cordão do Candongueiro. Concentrou na Pça. Araribóia, em Niterói e foi até a Pça. da Cantareira. Saca bloco família? Bloco que você conhece 60, 70 por cento dos foliões? Esse era o clima. Bom demais. E com uma grande vantagem: Finalizou com uma roda de samba da melhor qualidade. O que é um alento neste período em que você ouve sempre as mesmas marchinhas.


Tenho lido e assistido a algumas entrevistas da Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, Associação dos blocos do centro e da Zona Sul. Ela tem falado sobre a multiplicação dos blocos no Rio, o diálogo que a nova gestão da prefeitura tem estabelecido e, principalmente, sobre o firme propósito de manter o carnaval do Rio de Janeiro democrático. Sem cordas, sem abadás e sem curralzinho vip. Quem gosta disso, que vá pra Salvador!


É isso, senhores. O ano finalmente começa na Terra Brasilis. Então, Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Carnaval


Chegou o Carnaval! O evento que norteia nosso tempo- espaço, que determina o início dos planos feitos no ano novo. A célebre frase: " O ano só começa depois do carnaval" é séria. Entre o ano novo e o carnaval é um mixto de ressaca e expectativa. Sabe aquela coisa de ' estou bêbado mas daqui a pouco vou ter que beber mais então é melhor continuar bebendo?' É mais ou menos isso.


Aqui,na nossa querida São Sebastião do Rio de Janeiro, brinca- se, talvez, o carnaval mais democrático do Brasil. Só comparado ao de Recife. Aqui não tem abadá, não tem cordão de isolamento. Entra- se no bloco e pronto! Reflexo do espírito acolhedor do carioca. Somos assim o ano inteiro. Puxamos conversa em fila de banco, falamos de futebol com o cara da mesa ao lado, conhecemos o jornaleiro, o balconista e, todos aqueles que fazem parte do nosso cotidiano, pelo nome.


Acho o horário de verão a cara do Rio de Janeiro. A cara do carnaval. Acho que ele só deveria terminar depois dos folguedos de Momo. Uma praiana às 6 da tarde pra dar aquela recarregada nas energias pra iniciar a noitada é bom demais. Apesar de que, ultimamente, tenho preferido brincar o carnaval à luz do dia. Acordar cedo e ir pra um bloco. Volta pra casa, banho, almoço, descanso e mais um bloco. Lá pelas 8,9 da noite já tá rolando saideira.


Não tenho mais saco pra Lapa à noite no carnaval. Cheio demais e as mesmas atrções de todo ano. Eu cresci nos baile de clube. Na minha adolescência, o carnaval de rua tinha perdido a sua força. A gente ía pro clube. Sinceramente? Não sinto falta desse tempo. Acho que hoje, com carnaval de rua bombando, tudo é muito melhor.


Ao invés da Lapa, experimentem dar uma passadinha pela Rio Branco. É o bom e velho carnaval de Subúrbio. Com os blocos do Subúrbio: Cacique de Ramos, Bafo da Onça... e absolutamente democrático. Como deve ser.


Boa Folia! E não se esqueçam: Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Samba da Pedra do Sal


" A nêga vai reclamar, isso pra mim é normal. Toda segunda- feira tem roda de samba na Pedra do Sal" ( Mingo, Marquinhos Diniz e Chiquinho Vírgula)


Ontem, estava eu, mais uma vez,batendo ponto no Samba da Pedra do Sal.

O tempo estava quente, a cerveja gelada mas o frango com quiabo e polenta estava morno. Ferimentos leves.


Do alto da pedra, " urubuservando a situação" como diria Chico Szience, me dei conta do quão carioca é esse evento. O Samba da Pedra do Sal tem a cara do Rio de Janeiro em todos os aspectos.


A começar pelo dia: Segunda- feira. Isso lá é dia de samba? É. Por isso mesmo, é muito comum ver os frequentadores com ' beca de escritório', mochila nas costas, todos com cara de que contaram as horas o dia inteiro para aplicar la fuga do batente rumo ao samba. Todos com cara de escravos fujões que encontraram o quilombo.


"Mas segunda- feira também tem samba do trabalhador!" Alguém vai lembrar. Mas o da Pedra do Sal tem três diferenças extremamente relevantes:


Primeiro. É de graça. E isso faz toda a diferença. Ninguém precisa esperar chegar o dia do pagamento pra comparecer. É só chegar. E isso deixa todo mundo em pé de igualdade. Você encontra o advogado renomado, o auxiliar de serviços gerais, a secretária bilingue, o office- boy, todo mundo no mesmo bolo. Junto e misturado. Toda segunda- feira.


Segundo. A localização. É no centro do Rio, o que facilita a vida de muita gente. Quem trabalha nas imediações da Pça. Mauá, início da Rio Branco, Presidente Vargas, vai a pé. Tranquilo. A moçada já chega de latinha na mão. Veio andando, bebericando, falando mal do chefe e bem da secretária gostosa. Tem gente do subúrbio, da Baixada, da Zona Sul, da Zona Oeste. E nesse período pré- carnaval, tem gente do mundo inteiro. Ontem estavam lá, cerveja e câmera digital na mão, um grupo de japonesas.


Terceiro. A energia do lugar. A Pedra do Sal é quase um orixá. Uma entidade. A história do samba passa por ali e isso já motivo mais que suficiente pra que eu me emocione toda vez que piso naquela escadaria. Falar de todos os moradores e frequentadores ilustres, de todas as casas importantes demandariam três ou quatro textos.


Quem não foi, por favor, vá! Vá pra ver, encarnado em todos os presentes, o que popularmente se chama de " espírito do Carioca"


Claudinho, meu irmão, na próxima segunda, vou passar aí na Rádio pra pegar o cd e depois: Samba e cerveja. Já sabe onde, né?
Ah. A foto aí em cima é do meu amigo Ruy. Valeu, Ruy!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

IEMANJÁ E CARLINHOS DE JESUS


" Jogou sua rede, ó pescador! Se encantou com a beleza desse lindo mar.
Dois de fevereiro é dia de iemanjá. Trago- te oferendas para lhe ofertar"


Iemanjá é reconhecidamente o orixá mais popular do Brasil. No candomblé é conhecida com a Yaori, que siginifica ' mãe das cabeças'

A pronúncia correta é: Yamonjá. Ya= mãe e Monjá= filhos peixes, ou seja, mãe cujos filhos são peixes.


Sua saudação é Odoyá! Odô= rio , ou seja, mãe do rio.


O candomblé é uma religião que baseia sua fé nos elementos da natureza que são representados em divindades chamadas Orixás. Iemanjá representa o mar.


Ontem, como faço há 11 anos desde a minha iniciação, fui a procissão da rainha do mar, que se concentra na Cinelândia e vai até a pça. XV.

Sempre me emociono. Acho lindo ver a ' negrada' nas ruas do centro do Rio, cantando e dançando macumba, com suas vestimentas, suas guias e, sobretudo, sua fé.


Quando a gente passa pelo Castelo eu sempre tenho a sensação que estamos ali retomando nosso espaço. Afinal, os descendentes de escravos foram postos pra fora daquele pedaço da cidade com a derrubada do Morro do Castelo pelo então prefeito Pereira Passos.

Todo dia 2 quando passo por ali me vem à cabeça: " Pereirão! Não adiantou, meu cumpadi! Sobrevivemos, apesar de você e da sua política de europeização, de embranquecimento."


Tudo corria bem quando surgiu o Carlinhos de Jesus com uma equipe do RJ TV para fazer uma ' entrada' ao vivo. Até aí, tudo certo.


O problema começou quando ele, o Carlinhos, colocou o balaio oferecido à Iemanjá, na cabeça e entrou na roda pra dançar.

Explico. O balaio não é simplesmente um presente. Ali também tem mandinga, feitiço, que é preparado por pessoas devidamente autorizadas pelos orixás, o que quer dizer que, só quem pode colocar a mão nele, é um iniciado na religião. Um filho-de-santo.


Alguém reclamou, outros reclamaram. Achando, obviamente, extrema falta de respeito tamanha fanfarronice. Estavam passando por cima da doutrina da religião em nome de alguns minutinhos no RJ TV.


Teve bate-boca. Teve dedo na cara. E dedo na cara do Carlinhos de Jesus. E teve também quem o defendesse. Disseram que ele era ' de candomblé' , que era ' filho de santo' e que, por isso tinha o direito de estar com o balaio na cabeça.


Bom. se ele é iniciado eu não sei. Eu sei que, em 11 anos eu nunca vi, nem ouvi falar, que aquele sujeito um dia esteve na procissão.


Também sei que, depois de toda a celeuma, Carlinhos de Jesus entrou num carro da Tv Globo, com ar condicionado e foi para a Pça. XV.


Se ele realmente é da religião deveria estar como todos nós, embaixo daquele sol, dançando ( não é isso que ele faz de melhor?), cantando e louvando a Mãe das Cabeças.


Resumo da ópera: Esse tal de Carlinhos de Jesus é um fanfarrão! Nunca me enganou!